Texto: Natália Salvador
Fotos: Vitória Santana
A Clancy World Tour, do duo americano Twenty One Pilots, está passando pela América do Sul. O segundo show no Brasil, de uma sequência de três, aconteceu na Farmasi Arena, no Rio de Janeiro, na sexta-feira (24). Nem as altas temperaturas do verão carioca foram um impeditivo para o público comparecer em peso e vestidos a caráter, representando diferentes eras da carreira da banda.
Quem deu início aos trabalhos foram os neozelandeses da Balu Brigada. Liderada pelos irmãos Henry e Pierre Beasley, a banda tocou para um público reduzido, reflexo da dificuldade de entrada na arena e da enorme fila do lado de fora – além do horário. O pop alternativo do grupo está acompanhando a Clancy Tour na América do Sul e cumpriu muito bem o seu papel de aquecer o público para o que estava por vir.
Tradução do que é espetáculo e entretenimento
As apresentações do Twenty One Pilots são marcadas por uma explosão de energia, piruetas, efeitos e muita troca com os espectadores. A quinta passagem da banda pelo país não foi diferente, com palcos alternativos, plataformas no público e aparições surpresa nas arquibancadas, além de serem recebidos a plenos pulmões pelo público carioca. Josh Dun e Tyler Joseph envolveram a atenção de todos por mais de 2 horas, passando por canções de toda a discografia.
Para os fãs mais engajados é possível ainda acompanhar o espetáculo pela construção da narrativa da banda. Eles constroem o palco acompanhando a história criada por entre os discos. É a cidade que pega fogo e depois vai ao chão, o ato mais revolucionário dos “Banditos”, onde caem pétalas amarelas no público. Tudo é bem desenvolvido.
O público brasileiro é um espetáculo à parte. Em momentos como “Heavydirtysoul” e “Stressed Out” era nítida a emoção dos artistas em cima do palco. Tyler ainda contou que ama vir ao Brasil se apresentar e que já era um desejo antigo da sua família conhecer o país.

TOP só para baixinhos
O que chama muita atenção no público é a quantidade de crianças e adolescentes presentes. Santiago Martins, de 10 anos, está acompanhando a turnê pelo Brasil acompanhado dos pais Fabio e Tacy Martins. O casal conheceu a banda por volta de 2015 e notou a afinidade de Santiago com as músicas desde muito novo. “O aniversário de 7 anos dele foi com tema da banda, ele que escolheu. Ele já ouvia com a gente em casa, mas foi com “Scaled and Icy”, com aquela identidade visual toda colorida e a live stream de lançamento, que ele ficou super viciado. O primeiro show internacional do Santiago foi o GP Week, em 2022”, contou o pai.
Próximo ao lançamento do último álbum que ganhou o título da turnê, Santiago teve um vídeo viralizado na internet em que descobria qual música da banda estava tocando com apenas 1 segundo. Com isso, a gravadora convidou toda a família para uma audição exclusiva do novo álbum.
Já no caso de Arthur Limirio, de 7 anos, o pequeno descobriu a banda no YouTube sozinho aos 2 anos e influenciou os pais a ouvirem também. Ian Marlon e Palloma Limirio fizeram uma grande surpresa na noite de ontem. Arthur descobriu já na porta que estava indo para o show da sua banda preferida. “A gente não quis contar antes para não ficar muito ansioso. Ele amou as luzes, os efeitos e principalmente o fato deles tocarem naquele palco alternativo. Ele ficou muito feliz e isso foi mágico. É de fato a banda favorita dele e no palco eles entregaram muito mais do que o esperávamos”, contou o pai.
Em Ride, Tyler recebeu Dante no palco para cantar o final da música. A participação já deixou Arthur alerta para oportunidades futuras de acompanhar a banda pessoalmente. “Pai, eu tenho que aprender a falar inglês para poder falar com eles um dia, né? Ontem foi o melhor dia da minha vida, eu não acredito que consegui ver o show inteiro”, confessou o pequeno.
Saúde mental é o assunto-chave e impacto nas novas gerações
Para além da sonoridade, Twenty One Pilots tem uma narrativa profunda que estimula o engajamento dos fãs. Saúde mental, resistência e a busca pela própria identidade estão presentes em letras, clipes e universo da banda. Se para as crianças que acompanham o duo isso ainda não é tão claro, para os pais é um ponto muito positivo de uma ótima influência para o futuro. “Apesar de já buscar pelas traduções e saber cantar tudo, o Santiago ainda não se aprofunda nas letras, mas a gente já tem orientado muito ele sobre saúde mental. Que existem coisas que se a gente não colocar para fora podem acabar nos adoecendo”, pontuou Fábio Martins. “Temos uma conversa muito aberta com ele dentro de casa, então vai ser muito importante esse acompanhamento com a banda sobre superação e de falar sobre”.
Para os fãs mais velhos isso fica ainda mais evidente e aproxima a relação com as músicas e os artistas. Para Carol Jungs, o ano de 2013 foi um momento difícil, mas foi transformado pela música. “Eu realmente pensei que a vida não era para mim e nesse momento que foi difícil, eu encontrei [a banda]. Tyler sempre falou abertamente sobre saúde mental e sobre permanecer vivo. Se eu estou aqui hoje é com certeza por conta deles. Tenho algumas tatuagens em homenagem, porque sinto que são lembretes do que fizeram por mim, mesmo sem terem noção”, contou.
Carol juntou dinheiro especialmente para uma oportunidade de ver a banda em um show solo e, para ela, o evento superou as expectativas. “Eu já sabia que o show era ótimo. Até meu pai, que já foi a muitos shows de nível mundial, saiu de lá ontem falando que esse foi um dos melhores que ele já assistiu. Ficamos na cadeira superior e o contato dos dois com o público é inacreditável. Trocam poucas palavras, mas eu nunca vi nem na internet algum artista chegando perto do que eles fazem. Qualquer lugar que você fica tem a oportunidade de estar perto deles. E eles fazem isso porque sabem o quão importante são para as pessoas que estão ali”.
O universo do dueto não oferece apenas entretenimento, mas é também um ambiente seguro e de compreensão. Os fãs podem ter certeza de que as lutas internas que estão travando fazem parte da vida e que, em muitos casos, podem ser compartilhadas com seus ídolos e amigos que compartilham dos mesmos gostos. A noite de sexta na Farmasi Arena foi um abraço caloroso em todos que esperaram por tanto tempo uma oportunidade de ver um show solo no Brasil.
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