Foto de capa: PC Cavera
Enquanto os grandes palcos do Porão do Rock 2025 entregavam peso, nostalgia e multidões, com destaques como Sepultura, Black Pantera e BaianaSystem, foi no Palco Sesc que o festival respirou novidade e autenticidade. Considerado o “palco menor” do evento, foi ali que bandas do circuito independente imprimiram personalidade e potência. As bandas escaladas para o palco foram convidadas especiais e as vencedoras das seletivas no DF e pelas cinco regiões do país.
Mesmo com nomes já conhecidos do público do Porão, como a banda mineira Pense e os brasilienses do Cassino Supernova e DFC, o Palco Sesc foi marcado por uma renovada curadoria voltada ao cenário alternativo, com destaque para atrações regionais e representantes de uma cena nacional viva e descentralizada.
Para muitos, foi nesse espaço que o festival verdadeiramente revelou sua essência. É o caso de duas bandas que capturaram a atenção e os ouvidos do público: Móbile Lunar, de Belém do Pará, e Bayside Kings, da Baixada Santista.
Em uma ponta do espectro sonoro, a Bayside Kings subiu ao palco como quem já carrega estrada e cicatriz. A banda paulista não economizou na energia: trouxe um hardcore direto, pesado e catártico, que levantou rodas de mosh e gritos de coros entusiasmados. Suas letras falam de resistência, questões sociais e identidade periférica e fazem isso com uma urgência que ressoou forte no público. Um show que, ainda que breve, teve a contundência de um manifesto. Era o tipo de apresentação que lembra por que o hardcore segue relevante: porque ainda há muito a gritar.
Diretamente da capital paraense, a Móbile Lunar trouxe um show vibrante e sensorial. A banda, que mescla psicodelia, prog rock e elementos da música amazônica, conseguiu transformar seu set em uma verdadeira viagem sonora. As letras poéticas, muitas vezes melancólicas, ganharam peso com guitarras reverberantes e climas etéreos, criando uma atmosfera hipnótica que arrebatou até os mais desavisados. Não à toa, o grupo já começa a despontar como uma das grandes apostas da nova cena nortista, e o Porão foi o palco ideal para esse rito de passagem a uma nova escala nacional.
Um palco que respirou liberdade
O primeiro dia de festival já mostrava o tom do que seria uma das edições mais diversas do Porão. A abertura com As Verdades de Anabela trouxe uma performance intimista e lírica, que contrastou com o experimentalismo etéreo da Cool Sorcery. Logo depois, a Corja! incendiou o palco com um som ríspido e contestador, preparando o terreno para a pegada mais técnica e melódica da Electric Mob, banda que tem ganhado notoriedade no cenário hard rock nacional. Swave, por sua vez, apostou em um show dançante e vibrante, puxando o público para perto. Já na madrugada, DFC, veterana do hardcore brasiliense, encerrou a noite com um show brutal, acelerado e politizado. Uma descarga de fúria e ironia que resumiu, em poucos minutos, o espírito contestador do palco.
Do ska ao jazz alternativo, passando por shoegaze, stoner e rap-rock, o espaço foi um mosaico da diversidade criativa que pulsa fora do mainstream. O segundo dia abriu com Brasília Ska Jazz Club como uma verdadeira celebração instrumental, com metais dançantes e grooves envolventes que esquentaram o público logo cedo. A banda Quinta Essência trouxe uma fusão envolvente de rock alternativo com nuances eletrônicas, enquanto Aléxia mostrou maturidade vocal e presença de palco em um show carregado de emoção. Já Cassino Supernova apostou em um rock direto e nostálgico, com riffs pegajosos e estética noventista, Cezar Degraf entregou uma apresentação que mistura sonoridades urbanas com uma estética lírica marcante. Encerrando a noite, Adorável Clichê e Mais que Palavras mantiveram o público firme até o fim com uma energia vibrante, uma mostra de que o underground segue vivo, criativo e pronto para ocupar o protagonismo.
Se os palcos principais do festival entregaram grandiosidade e nomes consagrados, foi no Palco Sesc que a alma do Porão do Rock se revelou com mais liberdade. Ao valorizar bandas autorais, de diferentes cantos do país, o festival acerta precisamente ao reafirmar sua vocação: ser um espaço de encontro entre o novo e o necessário. E, no fim, talvez seja isso o que define uma grande edição de festival, não só o brilho das estrelas no topo, mas a capacidade de iluminar novas constelações.