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Maré Tardia não falha em seu explosivo e irreverente segundo disco, “Sem Diversão Pra Mim”

A lista de lançamentos do ano no rock brasileiro ganhou no último dia 30 de abril um registro especial. A Maré Tardia, banda original de Vila Velha (ES), dobrou a aposta no seu punk frenético com altas doses de surfe rock e uma leve flertada com o shoegaze em Sem Diversão Pra Mim (2025), novo disco do quarteto formado por Bruno Lozorio (guitarra/voz) Gustavo Lacerda (guitarra/voz), Matheus Canni (baixo) e Vazo (bateria).

 

O álbum, que invoca uma nostalgia especial pela sonoridade de bandas como Dead Kennedys, Joy Division e até The Strokes, foi gravado ao vivo no estúdio Costella em São Paulo e co produzido por Alexandre “Capilé” (Sugar Kane) e Gus Lacerda, um dos principais compositores da banda junto ao guitarrista Bruno. 


Entre as muitas referências apontadas pelo produtor de 25 anos, como
DIIV, Idles e Fontaines D.C., o disco Nevermind do Nirvana é um destaque especial tanto na arte de capa quanto na mix de Sem Diversão Pra Mim.

Com suas guitarras viscerais e muito chorus no timbre das cordas, a faixa de abertura “Leviatã” deixa essa conexão clara ao reverenciar faixas como Territorial Pissings do trio de Seattle, tanto na sonoridade quanto na explosão frenética da banda – que parece mesmo ter saído de uma cidade cinza, suja, com clima chuvoso na maior parte do ano – e não da paradisíaca Vila Velha.

Esse é apenas o 2º disco de estúdio da dedicada banda capixaba, que possui um leque de referências musicais bastante vasto e disse já ter acumulado a maioria das músicas para esse repertório atual durante as sessões de composição do primeiro álbum, o homônimo Maré Tardia (2022). Dentre essas gravações novas,“Já Sei Bem“, “Tarde Demais” e “Nadavai” foram os três singles escolhidos para apresentar o trabalho do quarteto nesse álbum, que marca também a estreia do baterista Vazo nos registros de estúdio da banda.

O EQFM conversou com os quatro integrantes na semana de lançamento do disco
e ouviu histórias de origem das novas músicas, bastidores da gravação em São Paulo, planos de dominação mundial para 2025 e os significados por trás do título de “Sem Diversão Pra Mim“. Confira a seguir:

EQFM: Já se passaram 3 anos desde o lançamento do seu primeiro disco, “Maré Tardia”. Como foi esse período e em que ponto vocês se sentiram prontos para entrar em estúdio mais uma vez, com novas ideias?

 

Bruno: Eu acho que desde que a gente gravou o primeiro disco, já queríamos lançar um segundo. Tanto é que a gente lançou [o disco Maré Viva, de 2022] e já começamos a compor músicas que poderiam entrar em um próximo álbum. Na nossa primeira turnê a gente já tocava algumas músicas, como “Já Sei Bem” e “Tarde Demais” no set e elas foram aparecer só agora nesse segundo disco.

 

Gus: A gente sempre escreveu muito, então tem muita música guardada. Muitas que a gente até já parou de tocar. Nesses 3 anos eu acho que foi até bom ter demorado um pouco mais porque a gente foi adquirindo novas referências e os gostos vão mudando também. Então, acho que esse disco agora representa uma evolução bem maior do que poderia ter sido se a gente tivesse só lançado no outro, sabe? 

 

Canni: O que influenciou muito em tudo que envolve o disco é que a formação da banda está estável há 2 anos. Então isso colabora para a unidade, para que a banda fique mais concisa, ter as mesmas quatro pessoas ali no processo fazendo. Até o primeiro disco a gente passou por problemas com bateristas, até o Vazo chegar e se firmar. Sacou?

EQFM: Como foi dividir a produção desse disco com o Capilé? O que aprenderam trabalhando com ele nesses dois últimos lançamentos?

 

Gustavo: No primeiro ele fez a produção toda. A gente também teve uma participação ali, mas no primeiro ele “setou” tudo, timbrou os instrumentos e pedais, porque a gente não tinha muito tempo para  mostrar para ele que a gente sabia, que também fazíamos as paradas. Então, ele chegou aqui em Vila Velha e gravamos em uma semana correndo.

 

Nesse segundo, eu tinha falado que eu queria produzir. A gente foi gravar um single [“Strokinho] no Estúdio Costella no final de 2023 e ele falou “Daqui a pouco a gente já faz outro disco, né?”


Ficamos com isso na cabeça e marcamos com ele de voltar lá no ano passado. Dessa vez foi uma produção em conjunto mesmo – mas o som da bateria foi ele quem tirou. O cara sabe tirar o som de bateria mais foda possível.

 

Quando eu fui gravar, ele deu o pitaco dele, quando o Bruno foi gravar, eu também dei os meus. Foi tudo em conjunto, foi bem legal. É claro que o pessoal da banda teve parte nessa produção também, todo mundo tem ótimo gosto aqui.

Bruno: O João dos Jovens Ateus foi nosso engenheiro de som na mesa.

Gustavo: É, e aí eu trouxe depois esse material todo para casa, mixei aqui em Vila Velha mesmo. E a gente gravou algumas coisas adicionais aqui na UFES.

 

EQFM: Sei que o Gustavo e o Bruno têm uma “disputa saudável” pelo número de composições. Como está o placar até agora?

Gustavo: A gente sempre faz tudo meio a meio, tá ligado? Isso é só uma brincadeira que falamos, mas sempre deixamos espaço um pro outro também. A gente faz um monte de músicas e vamos guardando. Isso é legal porque nos faz focar nas que gostamos mais.

 

Bruno: É uma competição bem saudável, a gente se ajuda muito. Estávamos contando as músicas que poderíamos colocar [no disco] e tinham umas 30 músicas, para escolhermos 10, no caso. 

 

Canni: Isso é muito democrático na banda, velho. Se a ideia ficou boa, se todo mundo gostou, é isso. Tem guitarra do Bruno no disco que criei. O Bruno gostou e aprendeu a fazer, porque ficou legal. Não tem ego.

 

EQFM: Qual é a música favorita do disco novo para vocês tocarem ou ouvirem?  

 

Vazo: Para tocar para mim sem dúvida é “Sem Diversão pra Mim”. Pela atmosfera do show, pelo fato de ser a primeira, nós fizemos uma introdução legal ao vivo. Me amarro demais em tocar ela.

Canni: Ela é a minha favorita também, por ser a única do disco que a gente escreveu os quatro dentro do estúdio, tipo, “vamos te fazer uma música do zero aqui”. Ela foi a que mais me surpreendeu após gravada. Quando eu ouvi ela no estúdio do Capilé, pensei “meu Deus, que porrada!”


Bruno: A música que eu mais ouço, até quando estou triste, é “Já Sei Bem”. Eu escrevi ela e acho que ela define bem a sonoridade que a gente quis atingir no disco. 

 

Gus: Para mim é “Ian Curtis” a minha favorita. Eu gosto muito dela porque eu acho que ela representa um lado novo nosso, que a gente não tinha explorado antes. Essa música foi bastante inspirada em “Doused” de uma banda chamada DIIV e eu estava ouvindo muito Fontaines D.C. , principalmente o 2º e 3º disco deles, um pós-punk frenético com as guitarras estralando, então esse som foi uma mistura de referências – além do próprio Joy Division.

 

EQFM: Falando em referências, vocês mencionam Erasmo Carlos, The Cramps, Growlers, Titãs e Surf Curse como artistas que lapidaram o som de vocês. O que estão ouvindo de novo que tem inspirado vocês a testarem sonoridades inéditas?

 

Bruno: Amyl & The Sniffers norteou bastante esse disco e acho que algo mais puxado pro Title Fight, é uma parada que eu tô construindo bastante nesses dois anos. O último disco deles é um “Shoegaze Rock and Roll”, não é aquele Shoegaze lento, tipo My Bloody Valentine, que se aproxima do Emo – e tá todo mundo fazendo emo ultimamente também, né? Então acho que fazer um shoegaze mais rápido, mais veloz e mais sentimental é bem mais legal.

Canni: Nossas referências são bem claras. Mas, de nós quatro, eu sou o único da banda que gosta de rock progressivo. Aí, quando a gente estava compondo essa música [“Não Se Vá”], eu me inspirei em uma linha de baixo do Yes que eu sempre toquei. E quando eu compus, fiquei caladinho, porque os dois [Gus e Bruno] gostaram. Eu pensei: “Não vou falar nada, porque se eles souberem que é do Yes, vão mandar eu trocar agora” (risos) e a banda aprovou.

 

Vazo: Eu escuto muita MPB fora dos palcos. É que eu toco rock com os meninos, só que escuto, sei lá, Seu Jorge. Mas falando de rock, eu curto muito Scalene e eu me inspirei muito no SuperCombo, que também me amarro. Então eu tentei trazer para a parte da bateria um pouquinho dessa pegada mais bruta. Eu acho a bateria do primeiro disco muito pau mole, então quis colocar um pau duro nessa p*rra (risos).

EQFM: Vocês dizem no release que a arte da capa de “Sem Diversão Pra Mim” – pintada pelo artista capixaba Gustavo Moraes –  “transcreve o espírito do álbum”. Pensando nesse cenário, qual é o espírito do álbum? Vocês se veem mais como a criança de bóia presa com um crocodilo na água ou com o próprio crocodilo confinado na piscina?

Bruno: O nome representa muitos conflitos que a gente passou. O amadurecimento, o sentimento e outras questões mais pesadas foram entrando e fluíram nessa coisa de “sem diversão”. A gente estava tão mal assim que nada era divertido. Eu estou falando por mim, né? Eu estava tão mal que eu não conseguia me divertir mais, não conseguia sentir. A gente tocava um show foda e eu pensava “porra, só mais um show.” Tá ligado? Sem nenhuma diversão. A gente viajava para tocar, conhecer lugares novos e eu ficava “é isso, né?”.

Passando esse período, acho que a escolha foi muito assertiva do nome. Porque foi meio assim: trabalho merda, a vida tava uma merda e e sem nenhum pingo de diversão. Então acho que eu me sinto mais como a menininha lá de bóia, com os perigos da vida,, o jacaré.

 

Gustavo: É até difícil descrever, é mais uma sensação de irreverência. Essa parada de “Porra,você tá de castigo, tá ligado? Seus pais botaram você de castigo, você não vai poder fazer nada.” Eu vejo muito isso assim também no disco, uma parada meio irônica do “sem diversão para mim”, mas que de alguma forma você vai tentar achar a diversão no meio disso tudo. Para mim é isso.

 

A capa foi ideia minha: “Sem diversão para mim. O que pode representar isso?”. E aí eu pensei: “Um jacaré em uma piscina, pô (sic), você não pode usar a piscina, né? Tem o jacaré dentro.” Eu achei que seria engraçado. Eu também estava ouvindo muito o Nevermind (do Nirvana) – espelhei um pouco a sonoridade da mix nesse disco, uma parada meio ardida, com chorus no baixo – e aí eu pensei e “e se a gente botar uma criança na piscina com o Jacaré?” – então é também uma grande referência à capa do Nevermind.

O Gustavo foi o cara que fez essa capa, ele é um artista absurdo. Foi de última hora que caiu no colo dele essa capa e foi a melhor coisa que aconteceu. Não consigo hoje pensar em outra coisa que poderia ter sido. 

 

EQFM: Além do lançamento de Sem Diversão Para Mim, quais outros objetivos a banda tem no ano de 2025?

Canni: Dominação mundial. Espalhar a palavra e converter todas, todos e todes. 


Gustavo: Rodar muito e tocar, queremos tocar no Festival do Sol esse ano.

A gente não foi para o Sul ainda, não tocamos no Nordeste, então a gente quer tocar em Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Natal, Salvador. Rodar mesmo e fazer bastante show.

Canni: A gente tem que aproveitar esse produto que a gente tem para mostrar para o máximo de pessoas possível e poder poder usufruir das coisas que a gente tá conquistando, tocar em lugares legais, conhecer pessoas legais, viajar e poder aproveitar esse momento da nossa vida. Para nós tem sido muito realizador tudo que está acontecendo com a gente, as pessoas que temos conhecido, que tem se aproximado, botando fé na gente. Esse disco, na verdade é resultado de tudo isso.


Sem Diversão Pra Mim é distribuído pela Deckdisc e está disponível em todas as plataformas de streaming. A Maré Tardia fará o show de lançamento do seu novo disco no próximo dia 24 de maio na Casa Verde em Vitória (ES). Os ingressos estarão disponíveis na bilheteria da casa somente, a partir das 17h .

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