Isso é o que vocês pediram: Linkin Park vence a desconfiança em “From Zero”

No dia 15 de novembro, o sexteto mais famoso do new metal mundial lançou o seu  8º disco de inéditas em 7 anos, From Zero. O Brasil foi o país escolhido para sediar as comemorações de lançamento, com direito a listening party para os fãs e imprensa em uma casa de eventos na Vila Madalena na véspera de dois shows esgotados no estádio Allianz Parque. Talvez isso seja uma forma de presentear a cidade de São Paulo, já que, de acordo com dados do Spotify, é a cidade que tem mais ouvintes mensais da banda no planeta.

 

O Linkin Park de 2024 não é o mesmo que acompanhamos até o trágico ano de 2017, quando o vocalista original Chester Bennington tirou a própria vida 2 meses após o lançamento do polarizante disco One More Light, renegado por parte considerável dos fãs e rechaçado pela crítica especializada pela sua falta de substância e descaracterização da sonoridade da banda, que optou por seguir uma linha voltada ao pop

 

Hoje o Linkin Park conta com a vocalista Emily Armstrong (Dead Sara) assumindo o microfone principal e Colin Brittain na bateria (o baterista original, Rob Bourdon, optou por não fazer parte dessa nova fase da banda). Brad Delson (guitarra), Joe Hahn (DJ) e Phoenix (baixo), além de Mike Shinoda (vocal, guitarra, teclas e produtor do novo álbum) são os remanescentes da formação clássica.

 

Desde a perda de uma de suas peças-chave, o Linkin Park foi considerado carta fora do baralho da indústria musical, mas a banda vem aquecendo os seus motores novamente desde 2020 com re-lançamentos comemorativos de discos clássicos como a edição de 20 anos dos álbuns Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003). Em 2024, anunciaram seu retorno oficial já com nova formação, novo single, show transmitido ao vivo e o anúncio do novo disco de inéditas.

Do Zero:

From Zero é um álbum relativamente curto (com 31 minutos de duração) e direto ao ponto em sua mensagem principal de recomeços. A introdução do disco traz vozes que remetem a um coral de igreja e uma fala da vocalista Emily questionando o título: “Do zero? Tipo, do nada?”. A própria chega a conclusão de que essa também é uma referência ao primeiro nome que a banda teve, Xero (que pronunciado em inglês soa como Zero). 

 

Trocas de vocalista são sempre indigestas para os fãs, principalmente quando a voz era tão marcante e vital para a sonoridade da banda como a de Chester, mas o single principal do disco, “The Emptiness Machine”, é uma excelente amostra do quanto o Linkin Park acertou na escolha da substituta. 

 

Emily tem potência, um bom alcance, domínio da técnica de drives vocais e transborda emoção na sua interpretação, principalmente quando clama por pertencimento no verso “eu só queria fazer parte de alguma coisa” nessa faixa de abertura impactante. O Linkin Park retoma sua sonoridade de banda orgânica com pitadas de elementos programados e faz isso da melhor forma, com o instrumental acompanhado de uma melodia que fica na cabeça desde a primeira audição.

Na sequência, a animada “Cut The Bridge” se apresenta como uma irmã espiritual para “Bleed It Out” (single do disco de 2007, Minutes to Midnight) e a já queridinha dos fãs “Heavy Is The Crown” é a prova de fogo para Armstrong, que encarna ecos da performance de Chester em “Given Up” ao estender o seu grito rasgado por 17 longos segundos enquanto entrega o que os fãs queriam ao afirmar “isso é o que vocês pediram”. 



O Linkin Park parece ter entendido o recado das plateias que torceram o nariz para 

a sonoridade de One More Light ao retornarem para as suas raízes com essas faixas de abertura, que, ao mesmo tempo que remetem ao passado new metal da banda, também soam como releituras modernas do estilo.  

 

A troca vocal entre Emily e Mike Shinoda se mostra bastante fluida e claramente há química e um contraste interessante em suas vozes. A escolha de uma voz feminina para a banda faz total sentido quando pensamos nos timbres mais agudos de Chester e também evita comparações de gênero com o falecido vocalista. É uma decisão parecida com a que os membros remanescentes do Nirvana tomaram ao selecionar vozes como as de Lorde, St. Vincent e Joan Jett para a posição de Kurt Cobain durante apresentação no Hall da Fama do Rock em 2014.

Emily consegue sua primeira oportunidade para brilhar sozinha na faixa “Over Each Other”, um single mais leve e melódico que serve para que os fãs recuperem o fôlego para o que vem a seguir. Mike pede para que Emily “coloque as suas calças de gritar” em um diálogo ao fim da faixa que antecede “Casualty”, que é provavelmente uma das mais pesadas da carreira da banda ao lado de “QWERTY” (2007).

A faixa que mais destoa da sonoridade do restante do disco é “Overflow”, com beats programados que soam gigantescos, sintetizadores que remetem à era do álbum A Thousand Suns, e um clima antêmico para a faixa nos vocais de Mike Shinoda que anunciam o futuro (“Eu consigo ouvir o futuro chamando, o chão se abre enquanto me engole para dentro do esquecimento“, canta o vocalista), esse é um dos pontos altos de From Zero no quesito produção e criatividade. Mike assume os versos, divide o pré-refrão com Emily, responsável por fazer a faixa crescer nos refrães seguintes até a entrada da guitarra distorcida de Brad, encerrando a música abruptamente.

 

“Two Faced” é mais um chamado à forma e sonoridade de hits passados em álbuns como Meteora e Hybrid Theory. A faixa tem um refrão chiclete na mesma medida de “Emptiness Machine”, conta com a presença dos scratches do DJ Hahn, além do verso gritado “stop yelling at me” (que faz uma conexão temporal com a ponte “shut up when I’m talking to you” do hit “One Step Closer”). Essa é certamente uma música que os fãs mais saudosistas de Linkin Park ouvirão repetidamente pelos próximos meses.

O disco entra no seu último ato com “Stained”, uma combinação de elementos eletrônicos com uma melodia bastante pop e a entrada da banda da metade pra frente da faixa, que é de longe a mais esquecível do disco. “IGYEIH” (Um acrônimo para “I Gave You Everything I Had”) é o grande ponto alto de From Zero: uma faixa com a melhor performance de Colin na bateria, se provando até mais versátil e criativo que Rob Bourdon costumava ser e com uma das melhores entregas vocais de Emily ao longo dessa última meia hora. A vocalista faz jus à letra e entrega tudo que tinha na sessão final da música, que acaba com ela gritando por cima de um dos riffs mais complexos de guitarra do disco a frase “daqui pra frente eu não preciso mais de você”.

Seria uma ótima oportunidade para a banda encerrar o disco em um ponto alto, mas a faixa acaba se fundindo com “Good Things Go”, que carrega um peso dramático comovente na entrega de Emily em versos como “Somente você pode me salvar da minha falta de autocontrole, às vezes coisas ruins acontecem onde as boas se foram”, mas mesmo assim não tem o mesmo impacto da música anterior. Poderia ter sido uma faixa bônus.

No geral, mais do que falar sobre recomeços, From Zero entrega a ideia de que o Linkin Park pode sim renovar a sua sonoridade sem abdicar do passado e identidade, mesmo com novos rostos e vozes integrando a formação atual. Se a excursão de novembro no Brasil provou algo é que os fãs receberam o que pediram e estão fechados com essa nova fase da banda. O futuro se revela promissor mais uma vez para o Linkin Park. 

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