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EQFM entrevista: Papangu leva o som da Paraíba para a Europa sem freio

Desde os primeiros anos em João Pessoa, o Papangu lutou para se firmar no cenário independente. “Tem um ponto de virada inicial, do primeiro disco, Holoceno, que foi a repercussão internacional dele em fóruns especializados”, comenta Rodolfo Salgueiro, tecladista da banda, evidenciando como a validação em ambientes virtuais – dos “dinossauros dos fóruns” aos jovens da geração Z – foi fundamental para o crescimento do grupo. 

 

A busca incessante por espaços e a coragem de “cair em estrada” foram determinantes para que a banda saísse do anonimato e se consolidasse como referência no universo underground. Essa combinação de sorte, estratégia e dedicação permitiu que, mesmo sem grandes investimentos culturais, o grupo despertasse interesse em críticos e em fãs que reconheciam o potencial de uma proposta verdadeiramente independente.

 

Na entrevista, Marco Mayer, vocalista e baixista, enfatiza a identidade do grupo: “Nosso som tem um pé no rock progressivo, mas também está muito ligado à nossa identidade cultural. A gente não tenta apenas reproduzir uma estética do prog clássico, mas trazer elementos do que é nosso.” Essa afirmação reflete a preocupação de manter o sotaque e a singularidade de uma banda paraibana, evitando “falar inglês” ou se adequar ao mercado, para que a música permaneça genuína. O grupo, sem vergonha de ser experimental, veste na camisa influências que “não são facilmente digeríveis”, conferindo ao som uma originalidade que conquista tanto críticos quanto um público entusiasta do que é genuíno.

 

O compromisso com a autenticidade vai além do som; trata-se de uma postura que se reflete na maneira de se comunicar e até na escolha dos temas. A rejeição a fórmulas pré-estabelecidas – “não tentar dobrar a música para ser mais aceitável” – faz com que o Papangu se destaque num cenário saturado, oferecendo uma proposta que é ao mesmo tempo, ousada e fiel às influências que passam por Magma, Zé Ramalho e King Crimson. Especialmente no álbum “Lampião Rei”, que consolidou essa sonoridade e abriu portas para o que está se tornando um dos momentos mais importantes da banda: a primeira turnê europeia.

O diálogo com o público

A primeira turnê europeia representa um marco na trajetória do Papangu. “O que mais impressiona é ver como as pessoas estão abertas a conhecer coisas novas. O prog e o metal experimental têm um público fiel na Europa, e esperamos sentir essa receptividade em cada show”, afirma Rodolfo, destacando a surpresa de encontrar públicos que abraçam os elementos nordestinos de sua música. O grupo relata que é “surreal ver as pessoas absorvendo os elementos nordestinos” e cantando junto, superando barreiras linguísticas e culturais.

 

Para além da apresentação no palco, a turnê mostra um rico campo de trocas e aprendizados. Os integrantes ressaltam a importância do intercâmbio cultural, que os permite conhecer outros artistas independentes e expandir suas referências musicais. Essa experiência reforça a confiança do grupo e também amplia a perspectiva de como a música pode dialogar com diferentes realidades e públicos ao redor do mundo.

 

Apesar da recente projeção internacional, o Papangu mantém uma forte conexão com suas raízes em João Pessoa – um cenário que, embora vibrante, enfrenta muitos desafios. “Falta infraestrutura para circular dentro do próprio estado. Muitas vezes, é mais fácil conseguir espaço fora do que aqui”, analisa Marco, apontando as dificuldades que os artistas enfrentam no contexto local. Essa realidade, marcada pela escassez de espaços e recursos, motiva o grupo a buscar alternativas e parcerias que viabilizem suas iniciativas.

 

No cotidiano de uma banda independente, os bastidores são tão intensos quanto os palcos. Os integrantes destacam a importância de “ter iniciativa, organizar e entrar em contato com antecedência” para marcar shows – um esforço que envolve desde o controle de gastos até a criação de uma rede de contatos sólida. Essa luta diária, repleta de “tentativas e erros”, é o que sustenta a trajetória do Papangu e, ao mesmo tempo, serve como exemplo e inspiração para bandas novas que estão surgindo.

 

A responsabilidade além do som

Para o Papangu, o sucesso não se resume apenas a tocar bem, mas também a construir uma estrutura que valorize toda a cadeia produtiva da música. “A gente tem cara de pau de chegar lá e dizer: ‘Nós queremos tocar tal show, precisamos ser remunerados’”, comenta Rodolfo, ressaltando que a organização – desde a gestão dos ingressos até o cuidado com a arte visual do merch – é essencial para sobreviver no meio independente.

 

Os integrantes enfatizam que essa postura vai além da própria banda, servindo como um guia para outros artistas. Aprender a “vender o peixe” e a delegar tarefas de forma eficiente é visto como um “serviço de utilidade pública” para a cena. Essa rede de contatos e a colaboração com profissionais – desde produtores até técnicos de luz – ampliam as oportunidades e reforçam o compromisso de levar adiante um trabalho sério e sustentável.

 

Além disso, os integrantes ressaltam a importância de usar o sucesso como plataforma para fortalecer toda a cena musical da Paraíba. A turnê internacional não é apenas uma conquista individual, mas um convite para que outras bandas possam seguir firme por ocupar espaços. 

 

Encerrando a conversa, o Papangu reafirma que o futuro está em continuar tocando o que acreditam, sem se prender a fórmulas ou rótulos preestabelecidos. “A gente lança uma parada que é muito parecida com tudo aquilo que a gente curte, sem tentar fazer algo que seja apenas mais do mesmo”, conclui Marco. Essa postura de constante reinvenção, com novos projetos no horizonte e uma determinação inabalável, o Papangu mostra que, mesmo diante de desafios estruturais, a autenticidade e a paixão pela música podem abrir caminhos e transformar realidades, seja na Europa ou no cenário brasileiro.

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