O rock, na essência, é negro. Nascido de um misto de transgressão, dança e guitarra, sua gênese foi marcada pela força e pela criatividade de artistas negros. Apesar de muitas vezes associado a narrativas brancas, sua origem e legado continuam ecoando nos passos de bandas como Black Pantera e outras que reafirmam o protagonismo preto no gênero. Para marcar o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, destacamos quatro bandas que reafirmam a potência e a relevância da presença preta no rock, conectando passado, presente e futuro.
Devotos: resistência punk recifense
Nascida na efervescente cena cultural do Recife, a banda Devotos (antigamente conhecida como Devotos do Ódio) carrega em sua história um simbolismo profundo de luta e resistência. Seu nome foi inspirado em um livro de José Louzeiro que aborda a batalha de camponeses contra os latifundiários na Paraíba, uma conexão direta com o contexto político e social brasileiro.
Com raízes no punk rock e hardcore, o trio – Cannibal (vocal e baixo), Neilton (guitarra) e Celo Brown (bateria) – é conhecido por letras que falam de desigualdade, resistência e vida nas periferias. Suas canções são como hinos, retratando as dores e as alegrias da vivência urbana. Ao longo de mais de três décadas de trajetória, o grupo consolidou-se como um ícone do cenário alternativo nacional, sempre mantendo a essência rebelde e engajada.
Devotos também se destaca por parcerias com artistas de diferentes estilos, ampliando seu alcance sem perder a identidade. Essa conexão com outras vertentes da música brasileira reflete o espírito de colaboração que permeia sua obra, tornando a banda uma verdadeira referência para quem busca entender o papel do punk no Brasil.
Facing Fear
Criada no Rio de Janeiro em 2016, Facing Fear traz ao heavy metal uma energia contagiante e uma proposta estética que une tradição e originalidade. Desde o início, a banda mostrou a que veio: seu primeiro EP, Lutaremos pelo Metal (2017), evidenciava o comprometimento com letras em português, uma decisão que fortalece a conexão com o público nacional.
O álbum Ana Jansen (2019) marcou um divisor de águas na carreira do grupo, consolidando seu som com produções refinadas e instrumentais coesos. Inspirado pela personagem folclórica homônima, o trabalho explora narrativas que vão além dos clichês do gênero, integrando temas brasileiros e universais. Suas turnês por estados como São Paulo, Piauí e Distrito Federal alavancaram o reconhecimento da banda, que também abriu shows para nomes como Black Pantera e Ambush.
Com o disco Marginal Metal (2022), Facing Fear reafirmou sua essência underground, abordando dilemas sociais e cotidianos a partir de uma perspectiva heavy metal. O álbum é um testemunho da vivência headbanger no Brasil e do compromisso do grupo em criar uma arte que transcende o entretenimento, provocando reflexões sobre identidade e resistência.
Punho de Mahin
Formado em São Paulo durante o Mês da Consciência Negra de 2018, Punho de Mahin é um manifesto sonoro e cultural. Inspirada em Luísa Mahin, a banda conecta sua música ao ativismo negro, resgatando histórias apagadas e questionando estruturas de opressão presentes na sociedade e, muitas vezes, no próprio movimento punk.
Com o álbum Embate e Ancestralidade (2022), o grupo trouxe um trabalho visceral que une a intensidade do punk rock com elementos da musicalidade afro-brasileira. As letras provocativas e a apresentação incendiária são ferramentas de enfrentamento, ao mesmo tempo, em que celebram a diáspora africana e as lutas históricas de resistência. Com essa proposta, Punho de Mahin transforma o palco em um território de disputa e afirmação cultural.
Radkey
Diretamente do Missouri, Estados Unidos, o trio Radkey mostra que o punk rock ainda pulsa com vigor e autenticidade. Formado pelos irmãos Dee, Isaiah e Solomon Radke, o grupo combina a rebeldia crua do punk com referências grunge, nerd e garage rock, criando um som único.
O álbum Dark Black Makeup (2015) é um marco na trajetória da banda, transportando os ouvintes para uma jornada sonora que mistura a energia dos anos 90 com a urgência política do punk. As letras simples e diretas, aliadas a uma apresentação explosiva, fazem de Radkey uma força a ser reconhecida no cenário internacional. Apesar de jovens, os irmãos Radke já acumularam feitos impressionantes, como apresentações em festivais de renome, incluindo o Coachella e o Reading Festival.