Em 2014, quando o Wolf Alice subiu ao palco do Glastonbury pela primeira vez, o catálogo da banda ainda não tinha um álbum completo. Até então, eram conhecidos por um conjunto de singles e EPs que, além de fazerem barulho na cena indie britânica, serviram para apresentar a identidade do grupo ao público. No ano seguinte, o primeiro disco completo, My Love is Cool, permitiu que o Wolf Alice mostrasse seu carisma rebelde; o projeto seguinte, Visions of a Life, de 2017, trouxe “Don’t Delete the Kisses”, a música mais bem sucedida da banda no Spotify, que possui atualmente mais de 140 mil streamings; o Blue Weekend, de 2021, rendeu uma vitória de Melhor Grupo Britânico no prestigioso Brit Awards. Agora, com o The Clearing, o Wolf Alice (que já sabe muito bem o seu espaço no indie) apresenta uma versão mais fleumática e sóbria de si.
O mais recente disco do grupo tem onze faixas e começa de forma teatral com “Thorns” antes de explodir em “Bloom Baby Bloom”, o primeiro single do projeto. A oposição entre a sonoridade destas duas primeiras faixas atua como uma prévia dos contrastes encontrados por todo o restante do álbum, que evidencia um novo florescimento artístico para o Wolf Alice. Mais do que marcar a volta após a pausa forçada da pandemia, “Bloom Baby Bloom” traduz a ousadia de uma fase mais audaciosa e distante de tudo o que o quarteto havia experimentado até então.
Produzido por Greg Kurstin, responsável por nomes como Adele, Sia, Liam Gallagher e Greta Van Fleet, o disco ganha um polimento que expande os horizontes do grupo. Dessa forma, ele soa mais orgânico que trabalhos anteriores, mas abre espaço para experimentações sonoras que vão do country sutil de “Leaning Against the Wall” e “Bread Butter Tea Sugar” ao pop quase radiofônico de “Just Two Girls”, inspirada em um jantar com as amigas de Ellie Rowsell e carregada de reflexões sobre liberdade feminina.
O que a maturidade trouxe?
Dez anos após seu álbum de estreia, o Wolf Alice olha para a vida com mais profundidade. Em “Play It Out”, Rowsell reflete acerca do envelhecimento e sobre como a sociedade enxerga mulheres que já não estão no auge da fertilidade. A faixa transforma um tema muitas vezes silenciado em uma celebração da felicidade em qualquer idade.
Em “White Horses”, Joel Amey assume os vocais e transforma a canção em um retrato de pertencimento inspirado em sua própria história familiar, marcada por origens desconhecidas devido à adoção de sua mãe e sua tia, além da jornada de sua avó rumo à Inglaterra. A música conecta identidade cultural e o senso de família que a banda e seus amigos representam para ele.
Enquanto ao ouvir o Blue Weekend você tinha a sensação de estar saindo sem norte em uma sexta-feira à noite (cru, caótico, noturno e enigmático); com o The Clearing, o Wolf Alice conseguiu fazer o oposto sem perder a sua essência. É como se sentar e curtir uma viagem de carro, admirando as paisagens através da janela em um domingo de manhã: é leve, sereno e familiar. Essa atmosfera é perfeitamente representada pelo single “The Sofa”, e ainda mais intensificada por seu videoclipe.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Joel Amey admitiu que ainda é “estranho” nunca terem tocado por aqui. Segundo ele, shows no país são apenas uma questão de tempo: um desejo que reforça a conexão da banda com sua base de fãs brasileira.
Texto por: Juliana Mencarini





























































































































