Os shows estão se transformando em experiências sensoriais, híbridas e profundamente emocionais, bora falar sobre isso?
Nos últimos anos, assistir a um show deixou de ser apenas estar diante de um palco. A música ao vivo está sendo reinventada — e a tecnologia tem sido tanto palco quanto instrumento. Entre a volta dos megafestivais e a ascensão das experiências imersivas, surge uma pergunta inevitável: o que é um show hoje?
A resposta pode estar em algum lugar entre o real e o virtual. Desde que Travis Scott reuniu milhões de avatares no Fortnite até Björk levar sua “Cornucopia” para teatros com cenografia digital, o ao vivo ganhou novas camadas. A experiência já não se limita ao som: ela é visual, sensorial, arquitetônica — e, em muitos casos, interativa.
Palcos em 360º, realidade aumentada, cenários comandados por IA, interações em tempo real com o público remoto. Estamos entrando na era dos shows-experiência, onde o espetáculo é um mergulho – um delírio multimídia que desafia os limites da performance tradicional e coloca o público dentro de uma atmosfera construída em bits, luz e presença expandida.
Mas não se trata apenas de pirotecnia tecnológica. Há um desejo latente de criar novas formas de conexão emocional. A cantora Sia, por exemplo, troca a própria presença pela performance de dançarinos anônimos — um gesto que questiona os códigos do estrelato e convida à catarse coletiva. É o inesperado como parte da fórmula.
Entre os efeitos visuais e os algoritmos, uma nova sensorialidade emerge. A presença física — suar, gritar, cantar junto — se funde com uma experiência estética que parece saída de um sonho lúcido. E mesmo com óculos de realidade virtual ou telões comandados por machine learning, o que o público busca segue sendo o mesmo: sentir algo real.
Claro, esse novo formato levanta dilemas. O calor humano de um show tradicional está sendo trocado por pixels? A presença pode ser substituída por projeções? Ou será que estamos apenas redesenhando o que significa estar junto?
Essas transformações também dizem muito sobre nosso tempo. Vivemos entre colapsos e conexões, superexposição e isolamento. E talvez por isso os shows estejam se tornando experiências imersivas — como uma forma de voltar a habitar o mundo com todos os sentidos.
No fim, o futuro da música ao vivo não caminha na direção de eliminar o passado, mas de expandi-lo. As experiências imersivas não substituem o contato humano — elas o reconfiguram. E talvez seja justamente aí que mora a beleza: no cruzamento entre o orgânico e o digital, entre o suor real e as luzes de LED, entre a nostalgia do palco e o fascínio pelo imprevisível.
O show do futuro é um portal. Um espaço onde a emoção se amplifica, onde a tecnologia vira extensão do corpo e onde o público não é mais espectador, mas parte viva do espetáculo. E, se a música é uma forma de estar no mundo, que seja com todos os sentidos ativados.
Texto por: Caroline Cardoso