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EQFM Entrevista: Letícia Fialho voa alto em “Revoada Baile Canção” e celebra a força da arte

Sete anos depois do aclamado Maravilha Marginal (2018), Letícia Fialho volta aos estúdios e entrega ao público Revoada Baile Canção, lançado em 25 de julho. O disco é uma ode à música brasileira das décadas de 1980 e 1990, com direito a participações de Tuyo, Ellen Oléria e Ju Strassacapa, e já ultrapassou 100 mil plays em apenas uma semana.

 

O conceito central de “Revoada Baile Canção” emerge de um lugar de profunda honestidade e se materializa na ideia de “fartura para todas as mesas”. Letícia Fialho enxerga este não apenas como um mote político-espiritual, mas como uma “grande fome do campo do sensível” em um mundo cada vez mais virtual e distante. Para a artista, o papel de quem faz arte é ser “esses operários os que trabalham com essa matéria que é inegavelmente humana”. “A gente não ser, a gente sentir, a gente errar, a gente começar de novo, a gente levantar, a gente chorar”. Segundo ela, em tempos de máquinas perfeitas, a vulnerabilidade e a humanidade da arte se tornam um conforto essencial.

 

A faixa-título, “Revoada”, serviu como o grande “abre-alas” e guia inspirador para todo o álbum. Curiosamente, a composição brotou quando Letícia testava uma guitarra brasileira de 1968, e a sonoridade remete diretamente ao que ela chama de “baile canção” dos anos 80 e 90. A partir da frase “Quando eu andava desavisada na mão da ilusão”, a artista construiu uma narrativa poética de superação e tomada de consciência.

 

O processo criativo do álbum foi peculiar: em vez de compor músicas novas para o projeto, letícia decidiu “abrir o baú” de suas composições cultivadas ao longo da vida. O disco é um emaranhado de memórias, incluindo canções que ela escreveu aos 15, 17, 18 e 33 anos, além de parcerias e até músicas de seu pai. Essa revisitação da própria trajetória trouxe à artista uma sensação de maior fé e gratidão: “Ter mais fé ainda, sabe, no caminho, tendo vivido coisas muito difíceis, dificuldades pessoais, dificuldades profissionais e tá aqui 2025, lançando uma música que fiz com 15 anos e outras que fiz com 30. Estar aqui viva, sabe? Fazendo música, vivendo de música no Brasil de hoje como uma mulher negra autora”.

 

“Revoada Baile Canção” se entrelaça com a fé em Oxossi, o orixá caçador. Letícia Fialho cria uma relação “bonita e singela” com essa divindade, que simboliza a força para atravessar obstáculos e a busca pela fartura. A presença de Oxossi no disco é intencionalmente silenciosa, assim como um caçador não entra na mata gritando. Letícia explica essa escolha: “É engraçado que eu não falo a palavra Oxossi. Essa presença também tá silenciosa ali, também tá, né?”. Ela ressalta que “o sagrado traz um tanto de segredo fundamental para que as coisas no campo do invisível aconteça”, ecoando a sabedoria popular de que “o calado vence”. Oxossi é homenageado por meio de elementos poéticos, como em “Flecha”.

 

A sonoridade do cerrado e a costura dos pássaros

 

A sonoridade do álbum é um caldeirão de ritmos brasileiros, misturando elementos de maracatu, xote, ijexá, baião, com a adição de aguerê, solos de guitarra, bateria pop, synths e beats eletrônicos. Letícia destaca a presença do aguerê se misturando ao pop, “quase como se fosse convidando, né, esse sagrado pro nosso baile para abençoar a nossa alegria, para abençoar a nossa festa, nossa colheita”.

 

A imersão da artista no cerrado brasiliense, onde morava durante a concepção do álbum, foi crucial para a atmosfera sonora. “Eu estava no meio do cerrado enquanto eu pensava em gravar esse disco, ouvindo pássaros o dia inteiro”, conta. Essa conexão profunda se manifesta nas flautas de Thanise Silva, que conduzem todo o álbum com até seis vozes, representando a “revoada, a passarada passeando por todo o disco”. Além disso, cantos de pássaros e cigarras costuram as faixas, finalizados por Mateo (Francisco, El Hombre), que utilizou áudios gravados pela própria Letícia no cerrado.

 

Brasília no coração e na projeção

 

Durante o papo com o EQFM, Letícia reforça suas origens em Brasília, além de ser um nome emblemático da cena musical da capital. Ela descreve Brasília como uma “mãe que faz tudo por você… mas é só até o terceiro ano. Depois disso, ela fala: então vai pra vida, eu não posso fazer mais nada por você”. Apesar dos desafios de estar longe dos centros comerciais da música, como a falta de gravadoras e selos, a cidade proporciona uma produção musical “muito oxigenada” e “muito genuína”, livre da pressão estética do mercado. A cena cultural brasiliense é “muito competente”, com talentos como o manager Paulo Cavalcante, que reside no Guará, bairro de origem da artista.

 

Letícia lamenta as dificuldades enfrentadas pela cultura na cidade, incluindo a coerção institucional e a escassez de casas de cultura. No entanto, mantém a fé no potencial de Brasília: “A construção de concreto acabou ali, mas a construção simbólica a gente continua fazendo. A gente, eu digo porque mesmo eu, Larissa Umaytá, um monte de gente que sai, continua construindo essa Brasília, porque a gente continua falando dessa cidade e construindo esse imaginário diante do país, de que existe uma cidade ali que é viva além do concreto e da sede política do país. Existe um uma encruzilhada de muitos saberes e culturas”.

 

Com o álbum “Revoada Baile Canção” já ressoando com o público, Letícia Fialho se prepara para levar o show à estrada. Para a artista, a experiência ao vivo possui um elemento fundamental: a troca direta com o público” Ela explica que essa interação a “traz totalmente pro presente”, tornando cada apresentação única, mesmo para músicas antigas: “Tem coisas que para mim já são antigas ou corriqueiras, mas naquele momento do ao vivo se torna novo, porque aquela troca ali é nova com aquelas pessoas. Então acho que esse é o grande tesouro assim do ao vivo, é aquela troca real”.

 

Para se preparar para essa troca genuína com a artista, ouça o álbum na íntegra:

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