Em outubro de 2010, Itu recebeu uma das experiências mais marcantes da história recente dos festivais brasileiros. O SWU (Starts With You) Music & Arts Festival reuniu fãs de rock, música alternativa e ativistas ambientais em um mesmo espaço, com um propósito claro: celebrar a arte e debater a sustentabilidade.
Idealizado pelo publicitário Eduardo Fischer, o evento nasceu com uma proposta diferente. Na coletiva de lançamento, Fischer destacou que o SWU não seria apenas um festival, mas um movimento de conscientização. Como ele afirmou na época, “Mais do que um festival, o SWU é um movimento que nasce para conscientizar as pessoas sobre a importância de pequenas mudanças de atitude no dia a dia.” Essa frase acabou definindo o espírito do evento. O discurso, na época, soou quase utópico. Hoje, é ainda mais necessário.
Fischer destacou o uso de materiais recicláveis, metas de compensação de carbono e a importância de criar uma experiência que inspirasse mudança.O festival foi ambicioso. Entre 9 e 11 de outubro, o SWU transformou a Fazenda Maeda em uma pequena cidade movida a música, debates e acampamentos. O público pôde viver dias intensos, imersos em shows, instalações artísticas e discussões sobre o meio ambiente. Era uma proposta ousada e, ao mesmo tempo, visionária.
Naquela época, festivais de grande porte ainda engatinhavam no Brasil. E o SWU chegou com força total. O line-up misturava lendas e novas apostas. Queens of the Stone Age, no auge do sucesso e com Joey Castillo ainda na bateria, fez seu retorno triunfal ao país após o Rock in Rio 2001, mostrando que o stoner rock e suas guitarras robóticas estavam mais vivos do que nunca, colhendo ainda as boas críticas ao disco Era Vulgaris (2007).
Bandas brasileiras também brilharam. O Black Drawing Chalks, por exemplo, carregava o DNA da influência sonora do QOTSA, mostrando que a nova geração do rock nacional bebia direto dessa fonte. Era uma época de efervescência criativa, e o festival soube capturar esse momento.
Mas não parava por aí. O lineup do SWU era impressionante. Passaram pelos palcos nomes como Pixies, Kings of Leon, Linkin Park, The Mars Volta, Incubus, Sonic Youth, Mutantes, Cavalera Conspiracy, Joss Stone, Regina Spektor e Tiësto, que encerrou uma das noites com um show apoteótico. Havia espaço para todos os gostos, do indie ao eletrônico, e isso fazia o público circular entre os palcos com a sensação de estar vivendo algo único.
Além das grandes atrações, o festival também abriu espaço para nomes independentes, como Curumin, Letuce, Sobrado 112, Mombojó, Cidadão Instigado, Superguidis e Volver, que se apresentaram no palco Oi Novo Som. Essa mistura entre consagrados e novos nomes dava ao evento uma cara diversa, criativa e antenada, algo que poucos festivais da época conseguiram alcançar.
Além da música, o SWU se destacou pela estrutura inédita. Havia áreas de camping, espaços de convivência e uma tenda dedicada a debates socioambientais. Figuras como o saudoso Marcelo Yuka levaram reflexões profundas sobre política, desigualdade e sustentabilidade, temas que, infelizmente, continuam atuais.
E como esquecer o histórico show do Rage Against The Machine? A energia foi tão intensa que o público da pista comum derrubou as divisórias e invadiu a pista premium, num ato que virou símbolo do festival. Era a essência do RATM transbordando: contestação, fúria e união.
O festival ainda teve uma segunda edição, em 2011, com nomes de peso como Faith No More, Alice in Chains, Stone Temple Pilots, Chris Cornell, Megadeth e Hole. Porém, apesar das promessas, o SWU não resistiu por muito tempo. Assim como surgiu do nada, desapareceu; deixando um eco de saudade e a sensação de que algo realmente especial havia acontecido.
Mesmo com sua curta duração, o SWU deixou um legado marcante. Mostrou que era possível unir música, arte e consciência ambiental em um grande evento. Inspirou novos formatos de festival e reacendeu o desejo por experiências que vão além do palco.
Quinze anos depois, quem viveu aquele fim de semana ainda guarda lembranças vívidas: da poeira de Itu, das noites de frio cortante, das filas no camping, dos encontros inesperados e dos riffs que ecoavam noite adentro. Foi um marco.
Talvez o SWU nunca volte. Mas, se um dia houver uma edição comemorativa, seria mais do que nostalgia; seria justiça com a história de um dos festivais mais incríveis que o Brasil já viu.
Texto por: Angélica Albuquerque




























































































































